Criada em 1925, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na altura em que se criaram salas dedicadas às grandes línguas e culturas da Europa, a Sala do Brasil ficou confiada à colónia brasileira e sob o patrocínio do Embaixador do Brasil. Foi então decisiva a contribuição do Doutor António José Teixeira de Abreu (1865-1930), professor catedrático da Faculdade de Direito, demitido da Universidade por não haver prestado juramento de fidelidade ao regime republicano, tendo então emigrado para São Paulo. A doação que então fez veio enriquecer decisivamente o novo espaço, já que Teixeira de Abreu ofereceu à Faculdade de Letras, para a criação da sala, metade dos seus salários em atraso, que lhe foram pagos, quando da sua readmissão, em 1926, uma valiosa biblioteca e as madeiras que mandou vir expressamente do Brasil para a construção do mobiliário que, em grande parte, ainda hoje se encontra na sala. Em 1929 a Faculdade de Letras manifestaria o seu reconhecimento a Teixeira de Abreu encomendando ao pintor António Carneiro o seu retrato, ainda hoje em exposição na sala do IEB.
O facto de a sala se limitar, à data da sua criação, a uma biblioteca sem correspondência no plano do ensino e da investigação levou a que, em 1934, Albino Peixoto Júnior, aluno brasileiro, endereçasse uma carta ao Embaixador do Brasil em Portugal, relatando que a Sala do Brasil estava “virtualmente morta”, fazendo com que as autoridades brasileiras tomassem algumas providências. Em função do empenho do Embaixador Araújo Jorge, a Sala foi reinaugurada a 7 de Dezembro de 1937, na presença de autoridades académicas e políticas de Portugal e Brasil [na foto, a Sala do Brasil nos anos 30 do século XX].
Nessa data foi oferecido por Afrânio Peixoto um Livro de Honra à Sala do Brasil, que abre com uma «Saudação inicial da Academia Brasileira de Letras», incluindo as assinaturas dos seus membros à data.
Transformada, em 1941, no Instituto de Estudos Brasileiros, foi essa a designação que ganhou no novo edifício da Faculdade de Letras, inaugurado em 1951. Entretanto, em 1942, sob a direção de Rebelo Gonçalves, primeiro diretor do IEB, tinha-se iniciado a publicação da revista BRASÍLIA que, com uma periodicidade descontínua, editou 13 volumes até 1968, data do último volume, além de 11 volumes de Suplementos. No plano do ensino, a área foi objeto de cursos breves e conferências desde Julho de 1923, data em que Oliveira Lima dá quatro lições sobre história e política brasileira na Sala do Brasil. Em 1930 é criada a cadeira de Estudos Brasileiros na FLUC, mas o seu regime de lecionação permanece descontínuo: em 1927, 1929 e 1930 Manuel de Sousa Pinto fez conferências sobre literatura brasileira no Curso de Férias, situação que perdurará, por meio de professores convidados, ao longo dos anos 30 e 40. Finalmente, em 1957, a reforma do Ensino Superior cria a disciplina de Literatura Brasileira, bem como a de História do Brasil, nos curricula em Portugal. Contudo, a primeira professora contratada para a lecionação de Literatura Brasileira na FLUC, Ivanice Passos, seria contratada apenas em 1960.
Não esgotando a bibliografia brasileira na FLUC, que possui vários acervos consideráveis de bibliografia brasileira em várias áreas, com especial destaque para as de Língua, Literatura, Cultura e História – situação reforçada pelos fundos bibliográficos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra –, a biblioteca do IEB possui um acervo bastante rico, recebendo com frequência investigadores portugueses e estrangeiros, tanto mais que nenhuma outra universidade portuguesa dispõe de uma sala exclusivamente dedicada ao Brasil.
O IEB integra o Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas (DLLC) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Científica e administrativamente, os docentes afetos ao IEB pertencem à Secção de Português do DLLC, a qual tem a seu cargo a docência e investigação nas áreas da Linguística, dos Estudos Literários e da Cultura, no mundo da língua portuguesa.
Entre Agosto de 2015 e Abril de 2016 a sala do Instituto de Estudos Brasileiros foi objeto de obras de restauro, sobretudo centradas no seu mobiliário, mas acompanhadas por melhoramentos, quer de mobiliário, quer do equipamento audiovisual da sala. O Instituto de Estudos Brasileiros entra assim numa nova fase da sua existência quase centenária, na qual se deseja que funcione como uma plataforma multidisciplinar para uma conceção renovada de Estudos Brasileiros.
About the IEB
Established in 1925 in the University of Coimbra’s Faculty of Arts, around the same time a number of rooms devoted to the major languages and cultures from Europe were set up, the Brazil Room was entrusted to the Brazilian colony under patronage of the Brazilian Ambassador. It was decisive, by then, the contribution of António José Teixeira de Abreu, Ph.D., formerly a Professor at Law School, sacked from the University by refusing to swear an oath of allegiance to the Republican Regime, having thereafter emigrated to São Paulo. His donation decisively enrichened the newly-created place, since Teixeira de Abreu donated to the Faculty of Arts, for the purpose of establishing the room, half of his unpaid wages – later refunded after his readmission in 1926 –, an invaluable library and even the wood he explicitely ordered from Brazil and was used in the making of the furniture, many of which are still in the room today. In 1929 the Faculty of Arts would publicly state its recognition towards Teixeira de Abreu by commisioning the painter António Carneiro a portrait of the former, which can still be seen today up on the walls of the IEB.
The fact that, since its installement, the room had been merely a library with practically no correspondence in the fields of teaching and research, led to dissatisfaction on the part of some students. In 1934, Brazilian student Albino Peixoto Júnior, famously addressed a letter to the Brazilian Amassador to Portugal reporting that the Brazil Room was by then “virtually dead”. The letter prompted a quick reaction from Brazilian authorities. Owing to the commitment of Ambassador Araújo Jorge, the room was re-inaugurated on December 7, 1937, having been present academic and political personalities from both Portugal and Brazil.
On that same date, Afrânio Peixoto offered the Brazil Room an Honour Roll Book, which opened with an “Initial greeting to the Academia Brasileira de Letras” and included the signings of its then-members.
Having been reshaped in 1941 into the Institute for Brazilian Studies, it was under that naming that the room earned its proper place within the new building of the Faculty of Arts, established in 1951. Meanwhile, in 1942, under the guidance of Rebelo Gonçalves, the first head of IEB, the institute had begun publishing the scientific journal BRASÍLIA. Although irregularly issued, the journal published 13 volumes until 1968 (the year of its last number) and 11 volumes of “Addenda”. In terms of teaching, the field provided a number of short courses and lectures since July 1923, the time when Oliveira Lima delivered four lectures on Brazilian history and politics in the Brazil Room. In 1930, the discipline of Brazilian Studies is formaly established at the FLUC, but its teaching regimen remained discontinuous for quite some time: in 1927, 1929 and 1930, Manuel de Sousa Pinto delivers lectures on Brazilian Literature in the Summer Courses, a situation that will remain as such, by means of resorting to guest lecturers, throughout the 1930’s and 1940’s. Finally, in 1957, the reform of Higher Education establishes courses in Brazilian Literature and History of Brazil in university curricula in Portugal. Nevertheless, the first professor hired to teach Brazilian Literature at the FLUC, Ivanice Passos, would only start her duties in 1960.
Far from exhausting the Brazilian bibliography at the FLUC, which possesses a number of significant bibliographical acquis in several fields (especially related to Language, Literature, Culture and History), a state of affairs reinforced by the exceptional book repository of the University of Coimbra’s General Library, the IEB library nevertheless holds a rich depot. It also frequently hosts a number of national and foreign researchers, all the more so that no other portuguese university currently possesses a room exclusively devoted to Brazil.
The IEB is part of the Department of Languages, Literatures and Cultures (DLLC) of the University of Coimbra’s Faculty of Arts. Both in scientific and administrative terms, teaching staff engaged with the IEB work under the Portuguese Section of DLLC, which manages teaching and research in Portuguese-speaking world Linguistics, Literary Studies and Culture.
Between August 2015 and April 2016, the IEB room underwent restoration works, especially focusing on the furniture but accompanied by improvements of the infrastructure and the audio-visual equipments. The Brazilian Studies Institute was therefore able to go into a new phase of its almost century-old existence, in which it will desirably work as a multi-disciplinary platform for a renewed notion of Brazilian Studies.
Referências | References
GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal (2009) «Nos Subterrâneos das Relações Luso-Brasileiras, Dois Estudos de Caso: O sucesso da (re)inauguração da Sala do Brasil, na Universidade de Coimbra (1937), e o fracasso do Congresso Luso-Brasileiro de História (1940)». In Lucia Maria Paschoal Guimarães (Org.), Afinidades Atlânticas. Impasses, Quimeras e Confluências nas Relações Luso-Brasileiras. Rio de Janeiro. Quartet e FAPERJ, pp. 129-175.
RIBEIRO, Maria Aparecida (2009) «A Literatura Brasileira na Universidade de Coimbra». In Lucia Maria Paschoal Guimarães (Org.), Afinidades Atlânticas. Impasses, Quimeras e Confluências nas Relações Luso-Brasileiras. Rio de Janeiro. Quartet e FAPERJ, pp. 89-127.
SARAIVA, Arnaldo (1999) «Os estudos de Literatura Brasileira nas Universidades portuguesas». Terceira Margem. Revista do Centro de Estudos Brasileiros, nº 3, pp. 7-27.