Teve ontem lugar, na sala do IEB, um evento do doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa da FLUC com o título “Do texto à sala de aula. O ensino da literatura pelo olhar de Sebastião da Gama”.
Publicado postumamente, em 1958, o Diário de Sebastião da Gama (1924-1952) tornou-se rapidamente em Portugal uma obra fundamental para pensar o trabalho de um professor de português e, em particular, de um professor de literatura, tanto mais que nele se procede ao registo (reflexivo, mas também emotivamente pessoal) do seu estágio profissional na Escola Veiga Beirão, em Lisboa, entre janeiro de 1949 e meados de 1950.
O volume suscitou, ao longo dos anos, várias tentativas de replicação literária por professores, de entre as quais cumpre destacar o livro de 2016, Desassossego de Ensinar. Novas vivências de um velho ofício, de um ex-estudante da FLUC, também ex-estudante do doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, Daniel Joana.
O colóquio “Na Sala de Aula” mobilizou os atuais estudantes do curso de doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, assim como alguns ex-estudantes do curso, para uma reflexão sobre a sala de aula, na perspetiva do ensino da literatura. Partindo do Diário de Sebastião da Gama, mas também de outros registos sobre a experiência docente, e lendo-os na ótica da escola atual, estiveram em causa os seguintes pontos, para cuja abordagem se propôs a eleição de um modelo de “reflexão pela prática”:
- O “artesanato pedagógico”: imaginação e criação de situações de ensino e avaliação.
- A “aula de leitura” e o “professor de leitura”. Relações entre a “leitura silenciosa” e a “leitura em voz alta”.
- As relações entre leitura e escrita (em suportes analógicos e digitais) na sala de aula.
- Como extrair efeitos de uma conceção criativa, e não estritamente patrimonial, de literatura?
- O que é uma “boa aula” de literatura e como aferir o seu sucesso?
- A utilização de textos canónicos e de textos não-canónicos na sala de aula. A mediação dos textos: textos integrais ou excertos; manuais, seletas, antologias.
O colóquio assumiu deliberadamente uma forma dialogal, resistindo assim ao modelo da sucessão de comunicações, propondo-se como consequência e extensão do seminário de Ensino da Literatura e, mais latamente, como consequência e extensão da própria configuração do seminário enquanto prática dialógica. Na sequência do que é já uma prática instituída no doutoramento em causa, e em boa verdade na FLUC, tratou-se de ceder a voz e a vez aos estudantes, com quem tudo começa e a quem, em rigor, tudo se destina em qualquer escola.
Participaram os seguintes estudantes do doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa (de 4 nacionalidades: Portugal, Brasil, Itália, China): An Yu, Angelica Conni, Fabrício Castello Branco, Joana Carvalho Silva, Letícia Alves, Nathália Lima, Pedro Rosario, Rafael Oliveira. E ainda Juliano Kreutz (estudante da Universidade Federal de Santa Maria, Brasil, em doutoramento sanduíche pela CAPES na FLUC) e Míriam Medeiros Strack (estudante de doutoramento em Ciências da Educação, que faz uma disciplina opcional no doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa).
Participaram ainda os Professores Daniel Joana e Rui Mateus, ambos doutorados pela FLUC em Literatura de Língua Portuguesa e docentes do Ensino Secundário em Portugal.
O colóquio contou com o apoio do Doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa, do Centro de Literatura Portuguesa e da Direção da FLUC.