No próximo dia 14 de novembro, pelas 11h, a Professora Maria José Goulão (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto/ CEAACP) realizará no Anfiteatro III da FLUC uma conferência subordinada ao título ‘Corpos exóticos. Figurações da alteridade na cultura visual da época moderna’.
Maria José Goulão é doutorada em História da Arte pela Universidade de Coimbra e Professora Associada com Agregação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, onde dirige o Departamento de Ciências da Arte e do Design. É ainda investigadora integrada do GEMA/CEAACP.
Foi Professora convidada do programa de doutoramento em “Patrimónios de influência Portuguesa” (III-UC) e da licenciatura em História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Lecionou ainda em diversas universidades em Espanha, França, Itália, Alemanha, Hungria, Islândia, Dinamarca, Eslovénia, Índia, Canadá e Brasil.
É especialista em arte colonial sul-americana, interessando-se sobretudo pelas transferências artísticas e culturais no espaço do Atlântico sul. Tem ainda diversos trabalhos publicados sobre a circulação das imagens, as representações da alteridade, estudos de icononografia e iconologia, história da arte medieval e moderna (sécs. XIV a XVIII), escultura funerária e temas da Morte e do Além.
Eis um resumo da sua conferência:
A questão do corpo tornou-se academicamente relevante nas humanidades e nas ciências sociais sensivelmente a partir da década de 80 do século XX, assumindo-se hoje em dia como uma espécie de fronteira última da transdisciplinaridade. A história da arte não é alheia a este tema, preocupando-se em entender como é que a imagem do corpo se relaciona com a ordem ou a desordem social, com questões de identidade, normalidade e monstruosidade.
Sabemos que a Europa do Renascimento representou o corpo colonial, extra-europeu, tendo as viagens de navegação e exploração modificado necessariamente as leituras sobre o corpo. A visão do corpo do Outro passa a incorporar conhecimentos e artefactos de outras culturas exteriores à cartografia medieval. Este corpo do Outro assume um lugar descentrado em relação à história da arte tradicional, vincadamente eurocêntrica, e talvez por isso tenha levado o seu tempo a constituir-se como objecto de atenção e estudo desta disciplina.
A partir do século XV, o encontro do continente europeu com outras geografias irá desafiar e deitar por terra as noções prevalecentes de cor, etnia, classe e dignidade humana, obrigando ao questionamento da antropologia monstruosa até aí existente. A inclusão de novos continentes no campo de visão europeu dará origem a novas formas de representação, que correspondem por vezes a formas de não-visão, ou de visão distorcida. A Europa irá representar o corpo estranho do Outro, negociando a sua imagem de forma a incorporar spolia e exotica, mas não se esgotando nesta “excentricidade”. Saberá também classificar a novidade dentro de categorias familiares, a partir da busca de proximidades e similitudes, que assumem os costumes europeus como ponto de partida. Trata-se, em muitos casos, de mapear a diferença através de uma cartografia da semelhança, contribuindo desta forma para o reforço de certas categorias que encontraremos mais tarde associadas ao inquérito antropológico.
Os nativos africanos e americanos não são assim figurados como um Outro radical, mas antes traduzidos num arquétipo familiar, governado pela lógica da similitude e conformado aos mundos estranhos, mas relativamente confortáveis para a mente europeia, já antes imortalizados nos textos da Antiguidade e continuados nas narrativas de viagens mais recentes.
Esta conferência é uma organização conjunta do Instituto de Estudos Brasileiros e da secção de História da Arte da FLUC.
O cartaz é da autoria de Thales Estefani.