O colóquio DESBUNDADOS E PORRALOUCAS incluirá, na sua programação paralela, uma exposição dos cartazes elaborados por Ana Sabino para o Instituto de Estudos Brasileiros no período de 2014 a 2021. A exposição será inaugurada na manhã do dia 20, com a presença da designer. Para essa exposição, Ana Sabino escreveu um texto que transcrevemos aqui:
O MODELO
[modelo de cartaz com grelha visível— Hilda]
Foi no dia 24 de novembro de 2014 que nasceu o primeiro cartaz, o cartaz-modelo, anunciando um curso de Tupi moderno. Limpo, escorreito, com espaço para texto numa grelha suficientemente flexível para futuras variações, dando primazia à imagem, em baixo, num formato quadrado. Com cor, mas apenas uma. Não só por uma questão de parcimónia — mais até por uma questão de força. A realidade em volta do cartaz terá todas as cores; restringir essa oferta é uma forma de destacar (separar, distinguir) o que está dentro do cartaz daquilo que está fora. Além de que dá imenso jeito para disfarçar a eventual falta de qualidade em futuras imagens… que é algo sempre previsível neste tipo de trabalhos.
Nasceu apressado, mas veio em bom dia. Ao longo das suas multiplicações foi-se ajustando aos vários conteúdos, à disponibilidade das imagens, ao tempo e disposição da designer. Como constante, uma encomenda sempre respeitosa, estruturada, clara e não raramente criativa e estimulante — atributos que qualquer designer dá graças por ter numa encomenda. Foram essas características, sem dúvida, que mantiveram esta troca durante sete anos, entre 2014 e 2021.
OS FAVORITOS
Mesmo sabendo que o modelo tinha como objetivo ser simples, fácil de executar, graficamente despojado, ao longo do tempo houve, naturalmente, cartazes mais inspirados do que outros. Destaco alguns dos meus favoritos, por ordem cronológica.
1) Hilda Hist diáfana, 2016.
Um cartaz que granjeou elogios pela escolha das duas cores aplicadas ao retrato da autora: um azul-céu e um rosa-choque, entre o puritano e o pop, para uma conferência sobre «A alternância místico-pornográfica na obra literária de Hilda Hist». Alcir Pécora, no início da conferência, comentou desejar estar à altura do cartaz. Evidentemente, o cartaz não fez senão parco jus à sua fala.
2) Machado de Assis dual, 2018.
A necessidade de utilizar uma imagem de um autor tão conhecido aguçou o engenho. O título evocava ideias de animais místicos recombinando metades de cavalo, homem, leão, águia; os dois romances confirmavam essa opção. Saiu, então, um Machado misterioso, bicéfalo, mantendo no entanto a sua gravata impecavelmente simétrica.
4) Drummond fora da caixa, 2017-2018.
A oportunidade de sair do modelo, criando um sub-modelo para um ciclo exclusivamente sobre Drummond de Andrade, que acabou por ter três conferências. Foi interessante pensar como criar algo que se identificasse com o modelo, ao mesmo tempo criando uma variação suficientemente destacada dos demais cartazes. Impôs-se a palavra Drummond, literalmente quebrando os limites da imagem.
3) Zaira com Z. 2020.
Uma fotografia sem um apelo particular, não obstante a simpatia fotogénica da conferencista, Zaira Turchi, que se propunha falar sobre «Os estudos de literatura na ciência brasileira». Tanto o retrato frontal como o tema pareciam pedir um twist: literatura na ciência, uma coisa aparentemente deslocada. Um pouco à semelhança de Machado de Assis, Zaira saiu refeita, re-figurada.
5) Last, but not least, a materialidade da língua. 2021.
Por fim, o último cartaz, que merece tanto carinho como o primeiro. O título, «Do não-objeto» às poéticas da expansão: modulações performáticas»; a proposta de imagem, o magnífico «Poema», de Leonora de Barros. Um belíssimo aceno às Materialidades da Literatura, motivo que me trouxe à FLUC, e portanto ao IEB, e que levo comigo no percurso daqui em diante.
Ana Sabino desenhou também o atual logo do IEB: